domingo, 14 de fevereiro de 2010

Escola do Algueirão, classe feminina de 1939.1940

Do álbum de fotografias da minha Mãe extraí uma fotografia da classe feminina de há 70 anos (1939-1940):




A professora era a saudosa Dona Stela, falecida não há muitos anos. Os alunos eram do Algueirão Velho, mas também das aldeias vizinhas, incluindo de Coutinho Afonso (eram uns bons três quilómetros a pé por carreiros, no Inverno rigoroso de então com muito frio e debaixo de chuva, certamente com a "barriga não muito composta"...).

A Escola do Algueirão Velho situava-se na bifurcação da Estrada do Algueirão com a das Mercês/Rinchoa e fechou em 1966, com a passagem dos alunos para a então ampliada escola situada junto à Igreja; recordo-me dessa passagem, fui acabar lá a 4.ª classe.

O edifício ainda lá está, é hoje um stand de motos e automóveis:

O Carnaval e as Cegadas

O Carnaval está aí e, salvo raras excepções, todo ele centrado nos desfiles mais ou menos "abrasileirados".

Nem sempre foi assim nas nossas bandas. Recordo-me de miúdo dos grandes bailes dos Recreios Desportivos do Algueirão, mas, sobretudo, das Cegadas no largo fronteiro à "Sociedade" e no "Rossio" de Coutinho Afonso.

Já passaram muitos anos desde que assisti à última cegada, quase 40. Uma descrição mais rigorosa que a da minha memória, do livro "Mem Martins, Retratos", de Zé de Fanares (*):


Do mesmo livro, outra história de Carnaval:



(*) Sobre o livro de onde extraímos estas histórias, um artigo de Filomena Oliveira/Luís Martins no blogue da Associação Cultural Alagamares (24.09.2006) - primeirosite.alagamares.net/artigo229.html:
Constituído a partir da rubrica jornalística "Retratos", publicada no Jornal de Sintra ao longo da década de 80, escrita pelo memartinense Luís Pedroso Miguel, que assina com o pseudónimo "Zé de Fanares", nome do pequeníssimo lugar ou povoado onde se construiu o apeadeiro do comboio, entre Algueirão e Mem Martins, hoje recordado com o nome de Rua de Fanares, Mem Martins. Retratos evidencia-se como um livro de crónicas-contos que recupera o modo comum de vida das populações da freguesia até ao final da primeira metade do século XX, um modo de vida eminentemente rural, regrado pelos ciclos das sementeiras, ceifas e colheitas, pelo transporte animal (o cavalo, o burro) e pelas profissões aldeãs (lavradores, abegoeiros, moleiros, canteiros, pedreiros, sapateiros, taberneiros…), a que se iam juntando quintas e moradias de veraneio. As "cegadas" e as "danças", com cantigas ao desafio, como festas aldeãs, são descritas com primor, bem como os bailes à luz do petróleo (e o primeiro arraial popular à luz de um gerador, em 1928) na casa do Zé Caixeiro.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O povoado pré-histórico "Penedo de Cortegaça"

A ocupação humana de Coutinho Afonso remontará aos tempos do Paleolítico, como é registado na estação arqueológica da "Casa Caída" - ver post neste blogue de Junho de 2009.


Mas o mais conhecido testemunho da ocupação humana na nossa área data do Neolítico, com o povoado pré-histórico designado "Penedo de Cortegaça", situada na fronteira das duas freguesias (Pero Pinheiro e Algueirão-Mem Martins) e ocupando áreas de ambas.

Essa estação foi objecto de várias intervenções arqueológicas, sendo referenciada em algumas publicações:


  • GOMES, J. J. F. (1971) - Objectos manufacturados sobre osso do povoado pré-histórico do Penedo (Cortegaça-Sintra). In Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia, Coimbra: Junta Nacional da Educação

  • SIMÕES, T. (1996) - O Sítio arqueológico de São Pedro de Canaferim (Sintra): Contributos para o estudo da Neolitização da Península Ibérica

  • SOUSA, Ana Catarina (1996) - O Neolítico final e o Calcolítico na área da Ribeira de Cheleiros (dissertação de Mestrado em Pré-história e Arqueologia)

  • Os dois últimos trabalhos referidos foram encontrados em - www.ipa.min-cultura.pt/pubs/TA/folder/11/


    Do segundo trabalho (Teresa Simões) extraímos a "Ficha de Sítio" e imagens de espólio aí encontrado:

    Do trabalho de Ana Catarina Sousa, efectuamos um pequeno resumo:

    Esta autora diz-nos que o Penedo de Cortegaça foi um pequeno povoado ocupado desde o Neolítico (5.000 a.C. a 2.000 a.C.) até ao Calcolítico (3.100 a 2.000 a. C.), fazendo parte de um núcleo de sítios, do qual o mais próximo era o Alto do Montijo (Morelena), mas que incluiria vários outros no que designa de área da Ribeira de Cheleiros; os principais seriam o Penedo de Lexim e Oulelas (Sabugo).

    O Penedo de Cortegaça era um povoado aberto, não fortificado, mas situado em cumeada, com condições de defensabilidade (a cerca de 200 metros de altitude); situava-se junto a terrenos com grande aptidão agrícola (a várzea da Granja), e os seus habitantes praticariam a pastorícia, o que será testemunhado por vestígios de queijeiras.

    Este povoado estaria ainda relacionado com necrópoles funerárias contemporâneas, nomeadamente a muito próxima e já destruída Folha de Barradas, na Granja do Marquês.

    Alguns excertos do seu livro:




    As duas últimas fotografias e as suas legendas são bem elucidativas das nossas (de todos, se bem que uns com mais responsabilidades do que outros - referimo-nos aos poderes políticos, claro) preocupações com o Património!
    Do crime ambiental que foi (e continua a ser) a pedreira falaremos mais tarde.